Arquivo: Edição de 21-06-2010
SECÇÃO: Informação |
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A FESTA E A FEIRA DA CULTURA
Uma feira tem ainda implícito em si o fenómeno da oferta e da procura. Neste caso, oferta de muito valor, de Cabeceiras e de fora. Orientada para um determinado objectivo: mostrar o que de valor humano existe , e promover oportunidades de inovação. E tanta coisa houve na mostra, promoção e oferta nos 49 espaços de exposição! Ouçamos o Presidente da Câmara: “… além da oferta pelas diferentes entidades ligadas aos (diversos) sectores, há também um outro objectivo: nós achamos que é importante aprender; achamos que é importante inovar. (…) É importante também, a partir desta aprendizagem e desta inovação, que se crie novas oportunidades de emprego. (…) Pela primeira vez, vamos ter a feira da ciência, nesta iniciativa do valor humano.(…) Além de enaltecer e valorizar todas estas iniciativas, queremos aproximar (todas) as entidades aqui representadas do público-alvo. As pessoas do nosso dia-a-dia com quem convivemos(…). UNIVERSIDADE ABERTA DE SABERES E DE SABORES
Neste “Centro Hípico” de Cabeceiras durante quatro dias este evento foi uma universidade aberta. De Saberes e de sabores, bem apreciados na prova de doçaria, pastelaria, sumos e vinho da terra. Além disto, os bolinhos, os rissóis, o presunto, a boroa de milho, a azeitona, tudo pitéus de excelente sabor e qualidade. Nesta universidade aberta, no binómio da oferta e da procura, no espaço da ciência, além da robótica e da astronomia a nível apenas de experiência, estavam pavilhões representativos do ensino superior – o IPCA ( Instituto Politécnico do Ave); o Instituto Politécnico de Bragança; o ISLA de Gaia ( um mundo de oportunidades!), com a sua especialização em tecnologia; A Dourocabe Portucale, com formação especializada em cabeleireiros e estética. E porquê a representação destes institutos? Porque, disseram-nos, têm sido alfobres de juventude de Cabeceiras que os tem procurado para a sua formação universitária. Além dos milhares de pessoas que pela feira passaram sobretudo no sábado e domingo, houve também o espaço para uma faixa etária de privilégio, para quem a vida sorri e o mundo está em permanente descoberta. Ouçamos, outra vez o Edil Cabeceirense: “Estas actividades ( da feira do livro, da ciência, mostras de actividades culturais) envolvem 820 alunos do primeiro ciclo e mais 200 crianças do pré-primário.(…) Hoje, podemos constatar que as actividades do enriquecimento curricular são “mais-valia”; acrescentam valor educativo e formativo às crianças das escolas do primeiro ciclo. Mais de mil crianças(…). Uma feira, ainda para mais com o nome de “festa da cultura”, tinha de conhecer este espaço da festa: do desporto à música e à dança e até às marchas e arraial, houve de tudo um pouco: no desporto, além de outras modalidades, uma vez mais, o Exército disponibilizou equipamentos para os mais arrojados praticarem desportos radicais; no teatro, a “Carochinha e o João Ratão” e a “Ceia dos Cardeais”, foram dois excelentes meios de distracção formativa e interpelativa na mensagem transmitida; na música, o cavaquinho, a viola e concertina, foram um maravilhoso espectáculo com “prata da casa” ( até o Presidente da Câmara afirmou que quando tiver tempo, ainda vai aprender a tocar cavaquinho). Da escola da Casa da Música. Como se estava em período de S. João, as marchas não podiam faltar e houve-as cheias de colorido, animação e inovação nos seus trajes. Uma festa linda. Completada na arraial, onde não faltou o convívio à volta da sardinha assada e do bom vinho e boroa. Com muitas música tradicional.
INOVAR É INTRODUZIR NOVIDADES Na parte da inovação, e é da nossa responsabilidade a sua inclusão neste espaço, houve três momentos nobres: a apresentação do livro “À Procura de um Lugar”, da escritora Dra Fátima Marinho; a entrega dos diplomas a formandos em diversas áreas; e a atribuição de prémios e certificados aos vencedoras das melhores janelas e varandas floridas. A propósito do concurso das varandas floridas, afirmou Joaquim Barreto: (…) Nós temos muitas casas, umas no espaço rural, outras noutros espaços mais modernos. Mas estas casas serão ainda mais bonitas se tivermos as suas janelas e varandas floridas.(…) E vão ser entregues prémios a quem efectivamente se dedicou e concorreu.(…) Isto não é feito por acaso. Um concelho não se promove só com equipamentos; não se promove só com infra-estruturas, com estradas, saneamento, águas. Um concelho também se constrói com a sua apresentação externa. (Assim) (…) estamos de alguma forma a incentivar naquilo que é a apresentação do concelho. E consequentemente, o desenvolvimento de uma terra(…). Se, no nosso entendimento, uma feira do livro é inovação constante, a apresentação de um livro inédito, é-o com toda a propriedade. E sem deslustrar todo esforço e todo o empenho de todos quantos colaboraram e se empenharam para que esta sexta “festa da cultura” tivesse mais um êxito assegurado, dedicar-nos-emos, agora, um pouco, ao que foi esta apresentação. O LIVRO E A AUTORA Causou-nos curiosidade a escolha, pela escritora, de Cabeceiras de Basto para a apresentação do livro. E quisemos saber o porquê. E ela disse-o depois haver recordado, com o maior carinho de uma alma ainda maior, a mãe, os irmãos e outros parentes; os amigos, os vizinhos e “todos quantos a voragem do tempo não permite nomear”: “É simples: vim para cá com dez anos e aqui cresci à medida que hoje me conhecem. Tive como anfitriã a minha prima Ana. Não podia ter conhecido melhor sorte. Não trocava por ouro nenhum do mundo a memória dos seus sorrisos e das suas batatas fritas em azeite, num tacho de ferro, à lareira. A generosidade das suas portas abertas e mãos solícitas a partir a broa de milho e presunto sempre que eu chegava. Em Cabeceiras tenho raízes fundas e grandes amigos. Gosto do verde das suas encostas, da calma dos espaços e das pessoas(…) dos meus vizinhos e do meu pai que ama esta terra(…) Gosto da sua casa sobranceira à vila. Gosto do Poço de Frades(…). E toda a assembleia religiosamente escutou o seu discurso. Um discurso ( pequenino mas tão lindo e saboroso!) pausado , com palavras cheias de musicalidade num caldeamento de saudade, ternura e nostalgia iluminados por um sorriso de encanto. Diríamos que estávamos ouvindo e vendo uma mulher-poema. E foi a poesia de muita sensibilidade saída dos seus lábios que rescendeu na sala, qual aroma da tília em flor e que até nós trouxe passagens da “Charneca em flor” da planície alentejana da sua meninice e que ela transporta consigo. E até de Camões nos pareceu estar a ouvir “ amor é fogo que arde sem se ver…/.. é uma dor que desatina sem doer…/. E ainda de José Saramago, que citou pela criação de Blimunda e Sete Sóis e ainda pelos “poemas possíveis” de que a escritora referiu uma passagem e editados no ano em que nasceu. Mas também a sensibilidade telúrica de Miguel Torga tão omnipresente em Cabeceiras, quando ela refere “ Gosto do verde das suas encostas, da calma dos espaços(…)”. Teremos sido nós os únicos a “ver” e a “ouvir” e a sentir isto não só na sua linguagem mas também nos versos dispersos da apresentação em vídeo nas passagens de “Sinto uma saudade que não sei definir e uma dor que não sei explicar?...
O QUE DISSERAM O VEREADOR DA CULTURA E O PRESIDENTE DA CÂMARA Na abertura da sessão, o vereador Dr. Domingos Machado, ao fazer a apresentação da autora do livro “ À procura de um lugar”, lembrou o falecimento entretanto ocorrido de José Saramago, “Prémio Nóbel da Literatura” Portuguesa. E aproveitou o momento para lhe fazer uma breve e singela homenagem. Enaltecendo o valor patrimonial de Cabeceiras , focalizou o contraste do “antes e do agora” : (…) “sobretudo no ponto de vista cultural, há uma diferença abissal e avassaladora(…). Cabeceiras, nos últimos anos tem investido muito na cultura (…) dá sempre um passo em frente no sentido de enfrentar os desafios e de preservar a nossa memória colectiva(…). É-nos muito caro estarmos aqui na apresentação de um livro cuja temática é de uma sensibilidade muito tocante e que a nenhum de nós deve deixar indiferente. Neste livro, reflecte-se sobre a diferença. Mas também no direito à igualdade de oportunidade para todos(…). Por sua vez, Joaquim Barreto, sobre a autora e “associando-se à iniciativa com o maior gosto”, assim se pronunciou: (…) É sempre bom (…) dar voz e vez a mulheres e homens que se notabilizam pelo seu trabalho. E que, fruto desse trabalho, contribuem para a formação de uma sociedade mais humana, mais justa. E ao mesmo tempo, promovem a nossa Terra. No caso, a Dra Fátima Marinho: com o seu trabalho e com este livro é também elemento factor de promoção do concelho de Cabeceiras de Basto(…) Este livro hoje aqui neste espaço, tem perfeito enquadramento. (… ) Nós sentimo-nos honrados pelo seu trabalho. E nomeadamente por este livro(…). E não nos esqueçamos de que todos os eventos, onde este da festa da cultura se inclui, são um investimento. Neste caso também, mais um investimento : “iniciativa mais centrada nas pessoas (…) cujo poder interventivo pode valorizar, promover, qualificar o ser humano o cidadão”(…). Neste objectivo, que é o progresso de Cabeceiras, (que) o desenvolvimento se faça de uma forma integrada de todos os sectores nas suas diversas misturas até à cultura. Mas também de uma forma harmoniosa(…). Investimento que já está a dar frutos: “já nos habituámos a por diversas vezes assistir à apresentação de livros. De pessoas que se envolveram e ganharam o gosto de escrever(…) e a partir desse trabalho da escrita (esses) promovem a leitura e promovem o concelho. Um conjunto de pessoas da nossa Terra nos últimos tempos se tem dedicado à escrita. E promovendo a escrita, promovem a leitura, promovem o interesse(…) E temos assim mais um pouco de história que não conhecemos(…). Esta é uma das iniciativas mais importantes da Emunibasto, porque é muito centrada nas pessoas. Muito centrada na formação. Muito centrada na qualificação. Muito centrada no valor das nossas gentes, das nossas pessoas. E principalmente procurando agregar aqui diferentes idades e diferentes actividades profissionais e diferentes condições académicas. A partir das pessoas – o que é o objectivo central – desenvolver o concelho(…) Se estão de parabéns todos quantos promoveram mais este evento, o sexto do “ Valor Humano – Oportunidades Inovadoras” ou “Festa da Cultura”, quem está de parabéns, caros leitores, é o concelho de Cabeceiras de Basto, que se pode orgulhar, parafraseando-a, da expressão : Ditosa a Pátria que tão dilectos filhos tem. E nós também podemos estar orgulhosos por mais esta oportunidade de vermos que, de facto, há sempre uma história ainda por conhecer na História de Cabeceiras. PEDRO MARQUES |